cujos nomes são desconhecidos
da maior parte
o tempo deixa-nos na memória apenas o passado que se acumula sob as finas camadas do presente
mas sabe seus nomes quem luta pelo futuro.
serenas as fúrias com o tom da tua voz que recordo ainda dos telefones antigos,
não serás vítima da fraqueza de ninguém porque as fortalezas, como tu, só sucumbem ao abandono
quem nunca abandona, não é abandonado.
o teu fogo azul, a tua alma marinha não são refúgios para quem está perdido. são as maiores riquezas de quem sabe o caminho.
a liberdade mede-se em graus
como os ângulos
se o seno for menor que um
estas cativo da tua inclinação.
quando volto aos meus lugares
entendo novamente aquela distância imensa
entre nós e o horizonte
como entre solidão e estar sozinho.
quando regresso aos meus lugares
sinto na polpa dos dedos o toque da pele
indígena
que nos reveste
por dentro.
há morangos, maçãs e laranjas. era o que podia ler-se na tabuleta de madeira à beira da estrada. a poucos metros à frente, as mãos engelhadas do frio e curtidas pelo vento salgado dos anos contavam algumas moedas para fazer um troco. o cliente satisfeito já levava um belo saco de laranjas e sorria. claro que não faço ideia se foi assim a estória, mas é o que dá gosto depreender pela tabuleta de madeira.
sei que as margens do Mondego foram vencidas pelo volume e pela torrente e que acabaram por ceder. ao viajar por entre o vale da livraria, o rio serpenteava em sentido contrário e nunca o tinha visto tão alto ou tão revolto. um rio revolto é sempre inspirador. e aqueles peixes que pensavam sossegar e permitir que o frio lhes petrificasse as preocupações eis que dão por si a ter de sair da letargia do gelo e a esbracejar para vencer os remoinhos. alguns cansaram-se e sucumbiram. outros não. já dos que ficaram a ver, como a nêspera, não reza a história. também não tenho a certeza de que tenha sido exactamente assim, mas é o que dá ter este gosto pelo impressionismo: uma pessoa vê um rio revolto e fica com a impressão de que há lá sempre mais qualquer coisa. claro que se podia sempre dizer "prateado o céu plúmbeo, escondia a cor barrenta do rio que, agitado, o reflectia" e pronto. mas é também o desafio das impressões, ver para além delas.
é por isso que posso escrever "o teu beijo pousou leve no meu peito" e saber que a verdade escreve assim: "o meu coração pulsa o sangue da tua alma."