quarta-feira, 28 de setembro de 2016

turno da noite

esse café da manhã à noite
a luz do sol só reflectida na lua
e um dia assim de repente 
a enchente
de luz e de gente
vigilante no sono 
ter uma arritmia na vida
uma hora preferida
para morrer
que resta estar disponível 

escreves a vida em código binário
acende apaga
e eu sou o teu turno da noite.



segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Arrábida

abrir um oceano no meio de continentes
e fazer da terra serra
do que era fundo do mar
elevar no ar uma onda e fúria latentes
um penedo de infinitas conchas
que ousam levantar-se
verticais
e ter no extremo ocidente o mais belo cais
uma rocha um substrato um convento
convento, o retiro dos homens que querem estar mesmo ali
à mão de semear do deus que lhes sopra o vento
no rosto, na encosta sul, na face do azul
e do tempo
do tempo que esculpiu escarpas e algares
e povoou de folhas o solo que aceita filtrados os raios do sol
sobre o musgo
talvez do suão ainda nasçam aqueles medronhos
a semente mediterrânica de alecrim
e da pedra humedecida veja nascer o brilho
de onde vim
árabe
mas mais antigo que as regiões as religiões
um refúgio, mãe, uma concha nossa
a placenta.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Bocage

triste o mundo de farpelas de alfaiate
feitas à medida da mentira.
vãs conquistas e falso louvor
com que se lavra a terra estéril d'alma débil.

frágil o brilho dos faróis fingidos
sumido o destino dos que por esse s'iluminam.

de mim não esperem mais que o breu legítimo
e a venal ausência
onde as estrelas se firmam.






quarta-feira, 7 de setembro de 2016

sem título

esse vendaval somos nós.

somos nós que nos levantamos do chão
e aos que estendem a mão
arrancamos as raízes mortas
destruímos as prisões
e sopramos futuro sobre o calor húmido



do passado.