plácidos os rostos dos que sofrem,
com uma nuvem de fragilidade cobrindo os olhos,
são cordeiros mansos, folhas ao vento perdidas,
cabisbaixo ajoelha ao senhor, implora migalhas,
sorri ante a escada que nunca subirá.
estende a mão o porco, sacode a cinza do charuto
e lambe dos lábios o último trago do cognac,
o cheiro do ócio a coberto do negócio, tresanda
a uma decadência balofa, escondida sob contas bancárias
imperscrutáveis.
a terra é uma benesse, oremos ao patrão, sem ele não teríamos pão.
dizem-nos aqui rente ao chão, mas consta que se dirá o mesmo no céu.
esta é a ordem natural das coisas que deus traçou,
para os homens inteligentes tudo, para os tapados, nada.
eis que facilmente se explica a relação dos ricos com a inteligência
e dos pobres com a falta dela.
se ainda trabalhas para comer, incapaz foste e continuas a ser,
sorte a tua quem te acolha em imensa bondade.
de resto, não há mais quem destrua a escada da ilusão,
senão tu, cordeiro manso, leão audaz.
2 comentários:
o cordeiro deixará de ser manso quando acordar. espero que falte pouco. aí será leão audaz, águia em vôo picado, trovão de tremer a terra. e o sonho cumprir-se-á.
bom ano para ti.
... leão audaz.
?
Sim, mas adormecido, anestesiado, intoxidado de desinformação e de preconceito.
Um abraço do
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