quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

sem título

não rodopiaste como nos filmes, mas houve alguma câmara lenta
os teus olhos semicerrados anunciavam o suor da noite se o abraço fosse acolhido
contaste-me a tua vida num jantar com vista para o tejo já anoitecido sob a sombra do adamastor
esperei na travessa vezes sem conta como quem espera as pétalas a cair no jardim imperial de tóquio
um buraco no peito uma alma cheia um beijo sempre nos lábios 
"o galo já não canta mais no canta galo..."
soava de manhã numa voz doce
e o café passado enchia as ruas todas da tua casa
escrevi-te uma carta mesmo à mão 
que seguiu pelo correio e não vi a tua cara quando a leste
mas fui feliz quando soube que chegara ao alto do bairro 
não andámos de bicicleta mas fiz uma viagem pelos andes 
e vi cholitas e vi o mapa da felicidade em manchinhas desenhadas no teu rosto
e vi o alto do atlas
e o açaí nas mãos dos putos trepando nas árvores
o meu coração nunca exercitou tanto 
não importa a trip, não importa a festa 
não importa o destino, mas a viagem
fui ao zêzere e voltei pelo rio abaixo numa laranja
esperei vezes sem conta na travessa
sentei nos canários em expectativa enquanto debulhava amendoins sagres e cigarros
assaltei fortificações que tinha cá dentro
e entrei nelas de mãos dadas
conheci-te e troquei um autoclismo em tua casa, despedi-me de ti e troquei um na nossa.

estranha estória que parece um retorno mas não é.

nem um minuto a menos, disso a certeza.

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