domingo, 21 de março de 2021

funda poesia

depois de o sol se pôr 
eu sei a noite 
que adivinha o dia 
depois de o coração bater 
eu sei o sangue 
e sinto entre artérias poesia

vinham dizer-me a toda a hora
que tenho hora marcada 
pela lua vazia 
acima de tudo pelas palavras 
de quem mas dizia

e foi preciso ouvir os mortos
saber quantos anos vivem 
lentamente
nas cascas das árvores 
para surfar em pequenas nuvens a maresia
e rebentar na espuma 
por onde a manhã se sumia
para poder ver aceso o tempo 
tempo rastilho 
tempo farol
tempo contado
tempo roubado 
a todo o tempo que nunca nos foi dado

fixaram-me dois dias
um para nascer, outro para morrer
e os outros, deram-mos
embrulhados na bruma
funda

funda fisga
que eu disparo

fecho um olho 
e aponto à cabeça de gigantes. 

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