acaso vire do avesso o mundo
pela janela do meu quarto
ficam as ruas, avenidas, oceanos, desertos e florestas cá dentro
uma cama e duas sóbrias bancas de cabeceira lá fora
e tudo
estranhamente
na mesma.
acaso vire do avesso o mundo
pela janela do meu quarto
ficam as ruas, avenidas, oceanos, desertos e florestas cá dentro
uma cama e duas sóbrias bancas de cabeceira lá fora
e tudo
estranhamente
na mesma.
aquele dia que passou e eu não vi
e o que não passou mas eu vivi
aos olhares dos outros somos sempre outra gente
que aquela que a gente sente
tudo é diferente
sempre nos compreendemos pior
do que os que nos compreendem melhor
por eu não ter ainda comido castanhas
não quer dizer que não tenha já começado o outono.
rega de lava o meu silêncio
derrama o sangue da terra
sobre o cadáver em posição fetal
sobre esse sossego final
quem sabe não restará uma escultura vesuviana
no epitáfio há-de ler-se
morreu mais um.
se cheguei ao lugar certo
terá sido acaso
por favor
se souberem a quem furtei o destino
avisem.