quinta-feira, 29 de novembro de 2012

"the future will see all History as a crime. So, Father, tell us when is the time to rise"

numa multidão prostrada,
um só rosto levantado é um facho aceso
na escuridão.

num povo amordaçado,
um só grito é uma explosão,
que no horizonte fixa o caminho, da poesia e também do pão.

entre gente acorrentada,
um só punho erguido é inspiração,
é fogo que funde o ferro da nossa prisão.

não há voz de comando para o coração revolucionário,
não esperemos um sinal, desnecessário.

vendados os nossos olhos,
haja quem no-los desvende, herói de vanguarda passo a passo.
se nos prende o ferro, juntos seremos aço,
se nos prostra a escuridão, juntos acenderemos a fogueira da imaginação,
se nos amordaça o silêncio, juntos seremos povo, música e canção.

assim seja cada um de nós o primeiro a levantar o rosto,
e que ninguém seja sozinho o primeiro.



sexta-feira, 23 de novembro de 2012

estética do domínio

tornaram bonitas as barrigas inchadas dos meninos pretos,
as moscas vagueando pelas bocas dos famintos,
tornaram heróis quem lhes manda arroz à beira do prazo de validade,
quem usa na lapela um broche de caridade.

arrepiam-te os olhos esbugalhados da criança em sangue,
mas entorpece-te a habituação, toma-te uma certa vontade que se esgota
no anúncio do patrocinador do world press photo.

imunizam pela estética a revolta, volvendo-a piedade,
os ossos da miséria montam cadáveres pelos campos estéreis,
arrasados pelo napalm e fósforo da liberdade.

contemplação de um belo nascido do lodo que esconde
o que mais feio há na verdade.

que belo não é o choro, é o que o acaba.
não é a fome, mas o que alimenta.
belo não é o osso despido, mas a pele que o cobre,

belo não é carpir lamentações, é fazer revoluções.


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

sacrifício


morrem os filhos enquanto a terra bebe o sangue dos famosos terroristas
que ousam levantar pedras contra os canhões.

deus,
em teu nome assassinam,
em teu nome cobrem de lágrimas e de mortalhas as crianças,

em teu nome lucram,
em teu nome roubam,

em teu nome, em teus nomes.

que vestes te cobrem agora senão a vergonha de estares escondido
e ainda vivo.

- sem título -



tantas palavras os olhos
trementes.




o sol a pôr-se, lançando sobre os campos a incerteza


de amanha,


e as últimas sombras de um castelo.